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Taxa Selic é mantida em 2%, mas mercado já se prepara para alta dos juros; como investir nesse cenário?
Conforme esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros inalterada em 2% ao ano – a quarta manutenção consecutiva da Selic.
Tudo indica, contudo, que o cenário poderá mudar em breve. Com a inflação de 4,52% registrada em 2020, portanto acima do centro da meta de 4% estipulada pelo governo, e sem sinais de desaceleração no curto prazo, a avaliação de especialistas consultados pelo InfoMoney é de que os juros devem ser elevados em breve, em um cenário ainda marcado por incertezas, fragilidade fiscal e com ano eleitoral na Câmara e no Senado, o que pode atrasar o avanço da agenda de reformas.
Em comunicado, o Copom destacou que extinguiu o “forward guidance” (prescrição futura, em tradução livre), o que também era aguardado pelo mercado, destacando que não reduziria o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições fossem satisfeitas.
“Em vista das novas informações, o Copom avalia que essas condições deixaram de ser satisfeitas já que as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, estão suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária. Como consequência, o forward guidance deixa de existir e a condução da política monetária seguirá, doravante, a análise usual do balanço de riscos para a inflação prospectiva”, afirmou o Comitê.
De toda forma, o Copom reiterou que o fim do mecanismo “não implica mecanicamente uma elevação da taxa de juros, pois a conjuntura econômica continua a prescrever, neste momento, estímulo extraordinariamente elevado frente às incertezas quanto à evolução da atividade”.
Levantamento realizado pela equipe de fundos da XP com 32 gestoras de estratégia multimercado macro mostra que a mediana das projeções para o juro básico ao fim de 2021 subiu para 3,63%, com uma aposta majoritária de que o aperto monetário terá início no segundo trimestre.
O Itaú Unibanco vê a Selic subindo em maio, não mais apenas em agosto, e encerrando dezembro em 3,50%. Uma apreciação mais intensa do real no primeiro trimestre, que ajudaria no processo de desinflação, entretanto, poderia postergar esse início do ciclo de alta para o segundo semestre, na visão do banco.
No relatório Focus, do Banco Central, o mercado financeiro trabalha com uma inflação de 3,43% neste ano.
O fato é que, com uma elevação da Selic cada vez mais próxima, mas com os juros projetados ainda em um patamar baixo e perdendo atualmente para a inflação, a vida do investidor não fica mais fácil. O apelo ao risco nas carteiras continua e a pressão inflacionária segue como um ponto de atenção a ser monitorado, com a preferência de gestores por ativos indexados a índices de preço, na renda fixa.
Foco no ganho real
A escolha de gestoras de patrimônio e assessores de investimento de se posicionar em ativos indexados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) se dá via títulos públicos ou crédito privado.
Na Galapagos Wealth Management, os gestores têm buscado oportunidades em operações de crédito privado isentas de Imposto de Renda para a pessoa física, com garantia real e que entreguem a inflação mais um prêmio excedente na comparação com um título público de mesmo prazo.
É o caso de Certificados Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs) e de debêntures incentivadas, que têm pago, em média, taxas de IPCA mais 4% em plataformas de investimento. “Mas é um mercado sofisticado, tanto para análise de crédito quanto de governança; não arriscaria fazer sem uma gestão profissional”, alerta Arnaldo Curvello, sócio da Galapagos WM.
Alexandre Hishi, responsável pela gestão de investimento da Azimut Brasil Wealth Management, também diz gostar das debêntures incentivadas que ofereçam um spread de ao menos um ponto percentual em relação ao Tesouro IPCA+ de prazo equivalente.
São, contudo, investimentos de menor liquidez e com prazos mais longos, da ordem de dez anos, reforçam os gestores.
Fundos de crédito privado com papéis “grau de investimento” isto é, com menor risco de crédito, também são boas opções, com taxas atualmente em torno de CDI mais 2%, afirma Hishi.
Neste caso, é preciso que o investidor seja seletivo e se atente à liquidez, privilegiando aqueles com prazo de resgate mínimo de 30 dias, avalia.
“O investidor sempre quer estar perto da porta de saída, mas ele tem que entender que fundos menos líquidos acabam sendo uma proteção, evitando que o gestor tenha que fazer uma venda forçada no momento errado, potencializando a perda do fundo”, explica.
Para o investidor mais conservador, que não quer acrescentar a “pimentinha” do crédito privado, títulos públicos atrelados ao IPCA de curto prazo, como 2028, oferecem prêmios interessantes, na casa dos 3% ao ano, avalia Dennis Kac, CIO da Brainvest Wealth Management no Brasil.
Os papéis também compõem a carteira de clientes do escritório BRA, aponta o sócio João Beck. O objetivo é escolher um prazo mais curto para que o investidor carregue o papel até o vencimento, evitando possíveis perdas com uma venda antecipada.
Bolsa
Na avaliação de Beck, a melhor classe de ativos para o investidor estar posicionado hoje, contudo, é a de ações. Ele argumenta que a alta dos índices acionários não se refletiu em todos os setores e que alguns ficaram para trás.
Segundo ele, os segmentos mais prejudicados pela pandemia e que devem se beneficiar este ano, com a retomada das economias, são os de shopping centers, educação, bancos e varejo focado em lojas físicas. “O investimento em Bolsa é um excelente instrumento – e o melhor – para acumular capital no longo prazo”, afirma.
A Bolsa também está entre as classes preferidas da renomada gestora SPX Capital, que está posicionada nos setores de utilities, consumo, mineração e óleo e gás, no Brasil.
Em sua última carta aos cotistas, a gestora reforçou que o vento externo a favor ajuda os investidores brasileiros, mas que o governo precisa fazer o dever de casa, votando reformas estruturais.
Para o investidor que está começando no mercado de renda variável, a sugestão de Beck é iniciar as aplicações via fundos de ações, de forma a contar com a expertise de um gestor e ganhar exposição a diferentes setores da economia.
“Quando o investidor monta uma carteira de ações ‘na física’, compra papéis de empresas que têm relação como consumidor. E isso é um problema, porque fica restrito a um setor, que é o de seu próprio consumo. Há, contudo, outros segmentos, como os de celulose, energia e software empresarial, por exemplo, que não fazem parte do cotidiano, mas que podem oferecer grandes oportunidades”, afirma o sócio da BRA.
Já na Brainvest, a mescla das estratégias de fundos de ações “long biased” (com flexibilidade de ter um percentual maior comprado) e “long only” (com 100% alocado em renda variável) é vista como o melhor mix para retornos na Bolsa, diz Kac.
Hishi, da Azimut, também gosta dos fundos “long biased“, dada a maior possibilidade para reduzir a exposição líquida em momentos de incerteza e aversão a risco.
Posições táticas, via fundos de índice (ETFs), também ajudam a diversificar o portfólio dos clientes da Azimut. No Brasil, a preferência é pelo ETF iShares Ibovespa (BOVA11), que replica o principal índice de renda variável no país, e pelo iShares S&P 500 (IVVB11), que busca replicar o desempenho do índice S&P 500 em dólar.
“São investimentos acessíveis, com baixo custo inicial, líquidos e que contribuem para a diversificação da carteira. No IVVB11, por exemplo, o investidor não só captura a valorização da bolsa americana, como fica com uma parcela do portfólio em dólar, como forma de proteção”, afirma Hishi.
Para manter no radar
Diante das expectativas de alta da Selic até dezembro, os papéis prefixados têm sido evitados por grande parte do mercado. O aumento das taxas diante do risco fiscal, entretanto, merece atenção e pode abrir oportunidades.
Em dezembro, o Tesouro Prefixado 2026, por exemplo, pagava um prêmio anual na casa dos 6,4%. Hoje, a taxa anual está acima de 7%.
Embora esteja sem posições em prefixados no momento, o sócio da Galapagos WM diz que tem monitorado as taxas desses papéis para retomar a alocação, desfeita na virada do ano.
“Ainda vai ter uma frustração com a inflação e com o BC sinalizando que vai subir os juros; o mercado vai ficar mais preocupado e, então, será a hora de entrar”, afirma.
Já na Brainvest, Kac diz estar posicionado no papel com vencimento em 2023, que paga atualmente um prêmio de 5,14% ao ano. “Se o Brasil tiver o mínimo de responsabilidade fiscal, respeitando o teto de gastos, acho que essa taxa no Brasil não faz o menor sentido e que curva deve fechar”, avalia, em referência a um aumento de preço.
Fonte de informação: Infomoney